quarta-feira, 18 de maio de 2011

O SURGIMENTO DO ESPORTE


Um velho amigo – um daqueles típicos professores da vida – estudioso de coisas antigas, bem antigas, certa feita, numa conversa de boteco regada a chope, defendia que o esporte teria surgido antes mesmo do próprio homem. Isso mesmo. Teria sido inventando pelo australopithecus afarensis. Naturalmente fiquei abismado com tal afirmação, já que nunca tinha ouvido falar no ser.
Ele explicou que o tal australopithecus afarensis viveu há mais ou menos 3,5 milhões de anos, no território do que é hoje a Etiópia, numa tal de Depressão do Afar. Fiz uma rápida pesquisa no Google e surgiram alguns indícios de que esse ser realmente existiu; o local também, hoje situado na localidade de Hadar, que naquela época não tinha nome, porque o australopithecus afarensis não nomeava os locais, nem as coisas.
Na minha pesquisa descobri que alguns cientistas acreditam que a espécie é a precedente dos chamados “verdadeiros seres humanos” e que a estrutura vertical e o bipedismo foram características adquiridas devido à necessidade de encontrar, pegar e fugir rapidamente com os alimentos para um lugar seguro, evitando o ataque de predadores. Meu velho amigo, que já contabilizava a quinta caneca de chope, pensara diferente. Teorizara ele, que os australopithecus afarensis andavam em grupos organizados, liderados pelo macho maior, medindo na época em torno de 1,5m. Estes grupos, cansados de lutas mortais por locais com nascentes d’água (locais com nascentes d’água, 3,5 milhões de anos atrás, eram muito disputados), teriam inventado o lançamento de galho de zimbro - floresta típica da região, na época. O macho que lançasse o galho de zimbro mais longe daria ao seu grupo o direito pelo local. Este lançamento de galho de zimbro viria a ser, segundo meu velho amigo, o antepassado do atual lançamento de dardo.


Esta teoria do meu velho amigo parece ser inconcebível, e realmente é. Pois, mesmo possuindo uma capacidade craniana de cerca de 450 cm³, é ilógico acreditarmos que há aproximadamente 3,5 milhões de anos estes seres teriam desenvolvido tamanha habilidade.
Por certo é que no começo, no começo de quase tudo, no que chamamos de período pré-histórico, todas as atividades humanas dependiam do movimento, do ato físico. Ao estudar a cultura primitiva em qualquer de suas dimensões (econômica, política ou social), vemos, sobressalente, a relevância das atividades físicas para os nossos ancestrais das cavernas. Nomadismo e seminomadismo eram as situações de existência onde o homem dependia de sua força, velocidade e resistência para sobreviver. Não era fácil!
Certo também, é que uma das atividades físicas mais significativas para o homem antigo foi a dança. Usada como forma de exibir suas qualidades físicas e de expressar os seus sentimentos, era praticada por vários povos, desde o que chamamos de período paleolítico. Esse sim, um provável marco de conceituação de origem do esporte - a dança - com registros de existência 60000 anos antes de Jesus Cristo nascer.
Intrigante é pensarmos que do primeiro passo dessa dança antiga, ou do "primeiro lançamento de galho de zimbro" (vai saber!), ao gol que seu time de futebol sofreu no final de semana, foram séculos de acontecimentos que marcaram nossa história até chegarmos ao atual conceito de esporte moderno. Concepção essa – de esporte moderno – que envolve e movimenta a maioria da população humana atual, e que, segundo alguns autores, teria surgido no século XIX, a partir da esportivização de jogos e passatempos das classes elevadas inglesas. Outros autores creditam este surgimento a fatos anteriores, na mesma Inglaterra, mas um século antes, com o nascer da indústria.
Se analisarmos aos olhos da ciência, a teoria do meu velho amigo cai por terra mesmo. Mas como, então, teria surgido o esporte?! Teria sido através da dança mesmo?! Para contribuir ou atrapalhar mais o raciocínio, trago a ideia do pesquisador Antônio Franco Estadella, quando diz que para definir o esporte seria necessário “partir da premissa de que ele sempre existiu de alguma forma e que ainda hoje subsiste em suas formas primitivas”. Complementando sua análise, afirma que só assim é possível se compreender o que é substancial nele e quais são os valores novos que a história lhe foi atribuindo. Pois é...


Fontes pesquisadas:
ELIAS, N.; DUNNING, E. A busca da excitação. Lisboa: Difel, 1992;
ESTADELLA, A. F. Esporte e sociedade. Rio de Janeiro: Salvat,1979;
OLIVEIRA, V. M. O que é educação física. São Paulo: Brasiliense, 2004;
http://www.modernhumanorigins.net/afarensis.html;
Imagem: Resconstrução do Australopithecus Afarensis (Cosmocaixa - Espanha).

Um comentário:

  1. "Pois, mesmo possuindo uma capacidade craniana de cerca de 450 cm³, é ilógico acreditarmos que há aproximadamente 3,5 milhões de anos estes seres teriam desenvolvido tamanha habilidade", você disse. Como assim ilógico?

    "Se analisarmos aos olhos da ciência, a teoria do meu velho amigo cai por terra mesmo", você disse. Não vi refutação alguma no texto ou evidências na sua crítica para acreditar que a teoria caiu por terra. No máximo posso dizer que você fala sobre uma espécie, Australopithecus Afarensis, na base do "achismo", subestimando-a, ou talvez superestimando o Homo Sapiens.

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